Uma violenta descarga eléctrica de alta tensão provocou ontem, pelas 14h25, dois mortos e três feridos, dois dos quais em estado muito grave. Tratou-se de um acidente de trabalho, numa empreitada de substituição de postes eléctricos da Rede Eléctrica Nacional (REN), no monte de Cruz Capitão, freguesia de Vandoma, concelho de Paredes.
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O filho de uma das vítimas mortais, que também estava a trabalhar no local, viu o pai calcinado e teve de receber tratamento hospitalar e acompanhamento psicológico.
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A descarga eléctrica aconteceu durante a colocação da base de um poste, quando os funcionários estavam a utilizar uma espécie de alavanca de ferro que se aproximou das linhas de electricidade, situadas a mais de dez metros do solo.
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“A montagem das estruturas de linhas de alta tensão é faseada e as vítimas estavam a proceder à instalação da base que serve de suporte ao resto da estrutura, que suporta cerca de 220 KW de potência”, explicou ao Correio da Manhã Delfim Cruz, segundo comandante dos Bombeiros de Baltar, a primeira corporação a chegar ao local.
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“Devido à alta tensão terá havido uma descarga eléctrica, sem que as vítimas tivessem tocado nos fios”, adiantou ainda o responsável dos Voluntários.
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Os dois trabalhadores que estavam em contacto directo com a barra de ferro ficaram calcinados. Dois que se encontravam próximos sofreram queimaduras graves, enquanto que um terceiro, mais afastado, ficou só com os braços queimados.
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Nuno Miguel Cardoso Páscoa, de 29 anos, e José Maria Rodrigues, de 43, naturais de Moinho de Almoxarife, no concelho de Soure, Coimbra, são as vítimas mortais deste acidente. Fernando Nuno Pedrosa Franco e Geison Alves de Lima, de 23 e 28 anos, ambos da Figueira da Foz, sofreram graves queimaduras e foram transportados de helicóptero para a unidade de queimados dos Hospitais da Universidade de Coimbra, onde se encontram em estado crítico. Alecsandro José Alexandre, 44 anos, também residente na Figueira da Foz, foi transportado para o Hospital São João do Porto, onde se encontra “estável”.
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A substituição dos postes da Rede Eléctrica Nacional (REN) daquela zona estava a ser efectuada por várias empresas subcontratadas pela EPME, S.A., como a Energfoz e a Átomo Verde, ambas com sede na Figueira da Foz. Os trabalhadores deslocados para a zona Norte dormiam toda a semana nas freguesias próximas no local da obra e apenas iam a casa aos fins-de-semana.
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Os colegas de trabalho das vítimas, todos residentes no Centro do País, estavam abalados pela tragédia e regressaram precipitadamente a casa no final da tarde de ontem por não conseguirem permanecer no local da tragédia.
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“Eram grandes colegas de trabalho e todos estamos de luto e solidários com as famílias”, desabafou ao CM um funcionário que preferiu manter o anonimato. Sobre as questões de segurança da obra nenhum trabalhador ou responsável da empresa quis prestar declarações. O Núcleo de Penafiel da Inspecção-Geral do Trabalho abriu, tal como a REN, um inquérito para apurar as causas do acidente.
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VÍTIMAS MORTAIS LIGADAS AO DESPORTO
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As duas vítimas mortais do acidente eram muito populares em Moinho de Almoxarife, no concelho de Soure, por estarem ligadas ao clube desportivo e a outras actividades populares na região. Nuno Miguel Páscoa, solteiro, jogava futebol amador no Samuel Futebol Clube e pertencia ao Club Motard ‘Diabos de Samuel’. O jovem de 29 anos, solteiro, começou a trabalhar após concluir o 9.º ano de escolaridade e depois de passar pela Soporcel esteve sempre empregado no ramo da electricidade. O seu conterrâneo José Maia Rodrigues, casado, pai de dois filhos (um jovem de 20 anos e uma menina de nove), era o director do Samuel Futebol Clube e chegou a emigrar para França, mas só ficou um mês e meio. Regressou a Moinho de Almoxarife em finais de Junho, com “saudades da família”, e tinha entrado na Energfoz há três meses. Ontem à tarde, no Café Pescador, esperavam-no para lhe entregar os novos equipamentos da colectividade quando souberam a notícia da sua morte. “Perdemos dois bacanos, resta-nos a saudade!”, disse o dono do café, Carlos Silva, primo do presidente do clube.
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POPULAR AJUDOU FILHO DE VÍTIMA
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Foi o primeiro popular a chegar à tragédia. Apercebeu-se do incidente quando trabalhava numa oficina “com vista para o local”, segundo o próprio. “Era um cenário inacreditável”, adianta o morador de Cruz Capitão, que conta os pormenores do que viu: “Os corpos encontravam-se quase irreconhecíveis e os restantes trabalhadores estavam todos em pânico, principalmente o filho de um dos que morreu.”
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Perante o estado traumático do filho da vítima, o morador decidiu levá-lo para uma residência de Cruz Capitão onde terá recebido apoio da equipa de psicólogos destacada para o incidente. “O rapaz nem conseguia falar. Estava em estado de choque”, rematou.
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FERIDOS COM PROGNÓSTICO RESERVADO
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Os dois feridos graves deste acidente de trabalho, com 23 e 28 anos de idade, que foram transportados de helicóptero para Coimbra, sofreram queimaduras de terceiro grau em mais de metade do corpo e encontram-se em estado “muito crítico”. Fonte da Unidade de Cuidados Intensivos dos Hospitais da Universidade de Coimbra disse ao CM que “o prognóstico é altamente reservado”, salientando que “as queimaduras por descargas eléctricas são sempre muito complicadas”. Quanto ao ferido ligeiro, um homem de 44 anos, sofreu queimaduras nos braços e foi assistido no S. João, no Porto.
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JÁ HAVIA AMIZADE COM HABITANTES
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As vítimas – juntamente com as outras equipas de trabalhadores – almoçavam diariamente no restaurante Bom Sucesso em Vandoma, onde já tinham criado laços de amizade com os empregados. Sílvia Matos, a proprietária do restaurante, explicou ao CM que José Maria Rodrigues, uma das vítimas mortais, era um cliente já apreciado pela casa. “Era muito boa pessoa e gostava de brincar, durante o último almoço ele estava particularmente bem disposto”, adiantou.
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Há cerca de um mês que os trabalhadores iam almoçar regularmente naquele restaurante. Ao todo, eram 18 pessoas que se costumavam juntar no convívio.
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In Correio da Manhã
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