O primeiro-ministro defende que o "país precisa de regressar à escola". Não se pode estar mais de acordo com esta necessidade. Mesmo sem a proclamação, sempre se regressa à escola. De vários modos.
A escola pode ser um vício. Depois da escolaridade básica, secundária ou superior, continua a chamar-nos. A atracção, por vezes, é irresistível. Eu não me contentei de andar a pasmar pelo liceu como discente. A ele voltei como docente. Até ficar quietinho, precocemente, a mandar bocas (pseudo) pedagógicas a partir de casa.
Outros, mais afoitos, ficam com o vício de voltar à escola pela calada da noite. Na região Centro, quinze antigos discentes, boa rapaziada certamente, entretinha-se, a horas desavindas, a escalar muros, a partir janelas e portas, a visitar salas de aulas, secretarias, bares de alunos e de professores. Só da Escola Secundária de Soure subtraíram vinte e dois computadores portáteis. Na EB 2,3 de Montemor-o-Velho, outro tanto. Entre impressoras, projectores "datashow" e outro material informático, a recolha era copiosa em muitas escolas dos concelhos de Coimbra, Condeixa-a-Nova, Montemor-o-Velho e Soure. A GNR, através da operação "Monte Mayor" interrompeu esta actividade empresarial dinâmica e lucrativa.
A fome de conhecimento destes antigos alunos, agora a contas com a Justiça, deve ser voraz. A outra fome, mais fisiológica, também. Até duas máquinas de cortar fiambre fizeram suas. Apreciavam queijos, chocolates, refrigerantes. Quando enjoavam o recheio das escolas visitam outros estabelecimentos: lojas e oficinas. Subtraíam tudo o que era vendável ou consumível no mercado negro. O mercado negro à luz do dia fica sempre branco. Tudo legal!
Quando a escola exerce uma atracção tão irresistível, deste cariz, é porque os antigos alunos lá andaram pouco tempo. A fazer das suas. Desatentos no mínimo. Aos desacatos, no máximo. Nem a escolaridade básica obrigatória cumpriram. Provavelmente irão aguardar complemento de habilitações básicas em estabelecimento prisional.
Mas estas quinze boas almas, por enquanto, nem a isto têm direito: estão em liberdade porque não foram apanhados em flagrante delito. Os delitos, por maiores que sejam, nem sempre são flagrantes. Fala-se impropriamente de flagrante injustiça.
O discurso apaziguador habitual dirá que a escola não soube agarrar estes, e muitos outros, antigos alunos que animam as prisões a abarrotar. Ninguém se lembra que estes antigos meninos têm ou tiveram pais. Foram bem educados. E, com ou sem a ajudinha do rendimento social de inserção, continuam devidamente inseridos. A animar as escolas vagas de labor intelectual. E a agitar as madrugadas dos incautos...
A escola pode ser um vício. Depois da escolaridade básica, secundária ou superior, continua a chamar-nos. A atracção, por vezes, é irresistível. Eu não me contentei de andar a pasmar pelo liceu como discente. A ele voltei como docente. Até ficar quietinho, precocemente, a mandar bocas (pseudo) pedagógicas a partir de casa.
Outros, mais afoitos, ficam com o vício de voltar à escola pela calada da noite. Na região Centro, quinze antigos discentes, boa rapaziada certamente, entretinha-se, a horas desavindas, a escalar muros, a partir janelas e portas, a visitar salas de aulas, secretarias, bares de alunos e de professores. Só da Escola Secundária de Soure subtraíram vinte e dois computadores portáteis. Na EB 2,3 de Montemor-o-Velho, outro tanto. Entre impressoras, projectores "datashow" e outro material informático, a recolha era copiosa em muitas escolas dos concelhos de Coimbra, Condeixa-a-Nova, Montemor-o-Velho e Soure. A GNR, através da operação "Monte Mayor" interrompeu esta actividade empresarial dinâmica e lucrativa.
A fome de conhecimento destes antigos alunos, agora a contas com a Justiça, deve ser voraz. A outra fome, mais fisiológica, também. Até duas máquinas de cortar fiambre fizeram suas. Apreciavam queijos, chocolates, refrigerantes. Quando enjoavam o recheio das escolas visitam outros estabelecimentos: lojas e oficinas. Subtraíam tudo o que era vendável ou consumível no mercado negro. O mercado negro à luz do dia fica sempre branco. Tudo legal!
Quando a escola exerce uma atracção tão irresistível, deste cariz, é porque os antigos alunos lá andaram pouco tempo. A fazer das suas. Desatentos no mínimo. Aos desacatos, no máximo. Nem a escolaridade básica obrigatória cumpriram. Provavelmente irão aguardar complemento de habilitações básicas em estabelecimento prisional.
Mas estas quinze boas almas, por enquanto, nem a isto têm direito: estão em liberdade porque não foram apanhados em flagrante delito. Os delitos, por maiores que sejam, nem sempre são flagrantes. Fala-se impropriamente de flagrante injustiça.
O discurso apaziguador habitual dirá que a escola não soube agarrar estes, e muitos outros, antigos alunos que animam as prisões a abarrotar. Ninguém se lembra que estes antigos meninos têm ou tiveram pais. Foram bem educados. E, com ou sem a ajudinha do rendimento social de inserção, continuam devidamente inseridos. A animar as escolas vagas de labor intelectual. E a agitar as madrugadas dos incautos...
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In Expresso
by José Alberto Quaresma
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