A Quercus denunciou ontem a «destruição de centenas de árvores e arbustos» nas margens do rio Arunca, junto a Vila Nova de Anços, no concelho de Soure. Segundo a Associação Nacional de Conservação da Natureza, a «destruição» foi feita ao longo de três quilómetros da margem direita deste afluente do rio Mondego, questionando-se sobre a legalidade da intervenção. «Na visita que efectuámos ao local verificámos o corte total da vegetação, composta principalmente por freixos e salgueiros, com recurso a forte mobilização de terras, e áreas do domínio hídrico que estão protegidas por lei», salienta, em comunicado, a associação, que já solicitou a verificação da legalidade da intervenção à Administração da Região Hidrográfica do Centro.
«Este tipo de acção em Portugal repete-se constantemente, porque se continua a olhar para os rios como valas de água, quando eles são corredores ecológicos essenciais à manutenção da nossa biodiversidade», afirma Paulo Lucas, da Quercus, considerando que as espécies autóctones no Arunca «sustentam as margens, impedem a erosão e contribuem para a não amplificação das cheias». O corte, adianta ainda, «vai provocar mais danos ambientais e contribuir para a diminuição da biodiversidade».
A Administração da Região Hidrográfica do Centro já terá, segundo Paulo Lucas, enviado uma equipa ao local no sentido de averiguar a situação, pelo que a Quercus espera uma resposta na segunda-feira. E exige, não só que seja verificada a «legalidade da intervenção», como «a reposição da situação anterior», ou seja, o repovoamento da zona com espécies que foram abatidas: freixos e salgueiros. «Estamos a falar especificamente da elaboração e execução de um projecto de engenharia biofísica que promova a reposição das condições ecológicas anteriores, utilizando para o efeito árvores e arbustos autóctones», refere a Quercus, que considerando a situação verificada no Arunca como «recorrente nas nossas bacias hidrográficas», exige «mais fiscalização e uma atenção especial no acompanhamento das intervenções a autorizar nestes espaços».
Carlos Laranjeira, da Associação de Beneficiários da Obra de Fomento Hidroagrícola do Baixo Mondego, considera a postura da Quercus exagerada, na medida em que os trabalhos que se têm vindo a desenvolver ao longo das margens do Arunca – e que esta associação tem vindo a executar – são apenas de limpeza e não está em causa o abate, mas apenas a retirada de árvores tombadas no rio e o corte de pequenos ramos que se encontravam na água. «Está a ser feito um trabalho racional de limpar única e exclusivamente o que está a impedir a passagem da água», afirma, considerando que a não execução destes trabalhos faz com que o lixo se acumule no rio e provoque pequenas cheias. «A medida é preventiva e racional», sublinha.
A mesma postura é assumida pela Associação Regional de Caça e Pesca de Vila Nova de Anços que, sem se querer pronunciar sobre quem está a executar os trabalhos (a Quercus diz que é esta associação), diz que o que está a ser feito é apenas uma «limpeza das árvores mortas e dos ramos».«As obras que estão lá, e estão bem feitas, são para bem do ambiente, para bem da fauna», diz Joaquim Santos, presidente da associação, considerando que a Quercus «não tem noção da realidade». O presidente da Junta de Freguesia de Vila Nova de Anços considera, por seu lado, que esta limpeza nas margens do rio «é absolutamente necessária».
In Diário de Coimbra
by Margarida Alvarinhas
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