Em nome do arroz

. segunda-feira, 3 de março de 2008
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Até dia 9 milhares de pessoas viajam pelos sabores do Baixo Mondego.
Cresceu no arroz, como um desígnio do destino, e é dele que vive. Da terra até ao prato. A vida de Helena Pinto, de 40 anos, empresária agrícola, é toda ela "feita" de arroz. Arroz, fertilidade. Arroz, sementeira e colheita. Arroz, iguaria de festa. "Desde pequenina que ando nos campos do Mondego, com os meus pais, irmão e agora com o meu marido, sempre acompanhei as sementeiras, a rega" Dos três filhos, o mais novo, André, parece querer seguir-lhe as pisadas no cultivo das extensas parcelas húmidas do Baixo Mondego. Helena e o marido, José Pinto da Costa, com os filhos Catarina (12 anos), Sofia (dez) e André (sete), juntam sorrisos num campo de malmequeres e mostram o delicioso arroz-doce que Helena acabara de confeccionar.
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Vem tudo isto a propósito da sexta edição do Festival do Arroz e da Lampreia, em que o arroz do Mondego, o famoso e apreciado carolino, é mais um pretexto para visitar a vila de Montemor-o-Velho. Até dia 9, esperam-se milhares de pessoas. Só no ano passado, contas feitas pela organização, foram servidas 30 mil refeições, o que significou um crescimento de 17% face aos anteriores certames. Degusta-se arroz de lampreia, arroz de cabidela, arroz maneirinho de pato e muitos outros pitéus de arroz. No cardápio, também o arroz é sobremesa. Uma exaltação para as papilas gustativas!
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É, pois, este cereal, alimento essencialmente energético, o chamariz perfeito para uma "invasão" à vila de Montemor-o-Velho (Coimbra), de onde, do seu castelo altaneiro, se vislumbram por vezes majestosos patos-reais a pousar nas terras húmidas, ou elegantes cego- nhas-brancas. O marido de Helena lá estará com um posto de venda de arroz, integrado no espaço da Associação de Agricultores do Vale do Mondego: "No ano passado vendemos duas toneladas de arroz durante o festival", assegura José Pinto da Costa. Neste certame, também a Cooperativa Agrícola de Montemor-o-Velho e orizicultores da Ereira venderão o apreciado cereal.
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O arroz, elemento aglutinador de um território com dez municípios, desde os que se identificam com a produção (Figueira da Foz, Montemor-o-Velho, Coimbra, Condeixa, Soure, Cantanhede e Pombal) às áreas onde se localizam as unidades de transformação, gastronomia e o rio Mondego (Penacova, Miranda do Corvo, Vila Nova de Poiares), será a génese de uma rota turística do vale do Mondego. Também há muito que os orizicultores do carolino pugnam pela qualificação desta zona como indicação geográfica protegida (IGP).
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Voltemos ao festival: durante dois fins-de-semana, 18 restaurantes aderem à mostra de gastronomia e, no recinto criado para o certame, dez tasquinhas e 11 espaços repartidos por oito associações deste concelho mondeguino, todos elegerão o carolino como base das loas gastronómicas do arroz. Mas os comensais também poderão apreciar as doçarias conventuais já afamadas desta região. Haverá ainda no perímetro expositivo dez stands de artesanato.
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Novidade será ainda a exibição de um filme sobre a cultura do arroz, que mostrará as diferentes fases da vida do cereal e daqueles que o trabalham, desde a década de 50 até hoje. Haverá ainda exposições na galeria municipal e no recinto, visitas turísticas ao centro histórico de Montemor, em charrete, e a realização da Rota do Arroz (estas últimas duas iniciativas mediante marcações prévias).
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Recorde-se que a Obra Hidroagrícola do Baixo Mondego, iniciada na década de 80 e ainda inacabada, desenhou um novo cenário naquele território - o emparcelamento, blocos com perímetros de rega, deram novo fôlego à cultura cerealífera e às hortícolas.
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"Houve uma evolução muito grande na cultura do arroz. Antes eram feitos viveiros, quando a planta tinha três, quatro folhas, era plantada à mão. Agora, é apenas semeada mecanicamente", alude José Pinto da Costa. "Antes, na colheita, por exemplo, a colheita era feita à foicinha, tudo era transportado em carro de bois", recorda Helena, que actualmente integra a Casa do Lavrador de Casais de Maiorca, jun- tando-se a outras seis senhoras para, aos sábados, vender arroz-doce de porta em porta. Uma actividade "apetitosa" e que assim não deixa morrer as referências de antanho.
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Mas que tem o carolino de diferente do agulha, por exemplo, e que o torna no cereal preferido dos portugueses? Helena, à conversa com o DN gente, responde prontamente: "Tem mais goma, mais capacidade para absorver os condimentos, é mais gostoso, fica mais suculento, é o que melhor se identifica com a nossa gastronomia, porque sempre apreciamos mais o arroz malandro."
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O vale do Baixo Mondego é uma extensa planície. Deslumbrante! Tem uma faixa que se espraia ao longo do rio Mondego - o vale principal - e por algumas ramificações que constituem os afluentes do rio principal.

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