Foi o seu último golo, certeiro, na baliza da morte... Fábio Gomes, o jovem de Vila Nova de Anços, despediu-se. Um último sopro de vida depois de ter passado as últimas semanas praticamente em coma. Esta foi a última partida que a doença lhe pregou e, apesar do jovem campeão ter ganho a grande maioria das batalhas, acabou por perder a guerra. A doença levou a melhor, fazendo claudicar órgãos vitais, já depois do transplante de medula ter anunciado uma nova esperança.
Fábio Gomes completou 18 anos no passado dia 25 de Maio, numa altura em que as expectativas de futuro se revelavam francamente animadoras, depois de uma luta sem tréguas contra a doença. Foi em Fevereiro de 2008 que lhe foi diagnosticada uma leucemia, doença que transformou por completo a sua vida, dos pais, familiares e amigos. O campeão de futsal teve de “recolher ao banco”, da mesma forma que os paus do grupo de Pauliteiros de Vila Nova de Anços ficaram guardados, à espera de melhoras. Sucederam-se os exames médicos, os internamentos e os tratamentos, mas apenas um transplante de medula se afigurava como resposta para o mal que lhe consumia a vida.
E foi esse o grande desígnio dos pais, amigos e familiares do jovem de Vila Nova de Anços, que empreenderam uma luta incansável em busca de um dador, goradas que foram as tentativas de encontrar alguém compatível no círculo de familiares e amigos, dando origem a uma imensa onda de solidariedade. Começou em Vila Nova de Anços, no concelho de Soure, e estendeu-se a todo o distrito e à região Centro.
O Centro de Histocompatibilidade, junto aos HUC, chegou a abrir as portas num sábado, para receber os muitos voluntários que se juntaram, nesta imensa cadeia de solidariedade, em busca de um dador compatível com o Fábio. Uma cadeia que também teve ecos além fronteiras, com acções de recolha a realizarem-se em várias localidades de Espanha.
E ao fim de praticamente dois anos de angústia, a esperança renasceu, quando da Alemanha chegaram notícias da existência de um dador compatível. Carlos Gomes, mais conhecido por Gitos, e Isabel Mendes, pais do Fábio, ganhavam uma nova esperança com o novo ano. E em Fevereiro, depois de mais uma panóplia de exames, o transplante foi realizado, no Instituo Português de Oncologia de Lisboa, e tudo correu bem. Tão bem que em finais de Março, Fábio já conseguiu tomar banho sozinho, comer uma canja e passear-se pelos corredores daquela unidade de saúde. Os próprios profissionais do IPO sublinhavam a excelente recuperação, considerando que o jovem campeão ultrapassava, uma vez mais, as melhores expectativas, permitindo que, pouco depois, entrasse num regime de “hospital de dia”, fazendo os necessários tratamentos, mas recolhendo, à noite, às instalações da Cáritas, com a mãe.
Dois anos e meio de luta
Mas a escada da recuperação começou a falhar e um conjunto de degraus claudicaram, ditando sucessivos problemas, que afectaram vários órgãos vitais, com destaque para o fígado. Fragilizado, o jovem de Vila Nova de Anços foi lutando, mas, ao fim de mais de dois anos e meio, as forças começaram a falhar e as resistências a “dar de si”. Ontem foi o fim.
Para trás fica um registo único de solidariedade e amizade, que movimentou multidões e fez mover montanhas. Pois não foram só os dadores, amigos, mas sobretudo anónimos que se juntaram, mais de 15 mil, a esta causa.
Jogadores de futebol e dirigentes desportivos de clubes “grandes” e também mais “pequenos”, com um particular destaque para Briosa, a “equipa da casa”, estiveram sempre presentes, participando nas mais diversas acções e levando a sua palavra amiga ao hospital, nos repetidos internamentos a que foi sujeito.
Não faltaram os amigos, nem o apoio de conhecidos e desconhecidos, nem o abraço forte do pai ou o carinho protector da mãe. Faltou apenas um «bocadinho de sorte» e foi essa “falha” que permitiu que a morte levasse a melhor e arrebatasse a vida ao campeão de Vila Nova de Anços, num lance sem defesa possível.
O corpo de Fábio Gomes está em câmara ardente na igreja da Misericórdia de Vila Nova de Anços. Hoje, pelas 17h00, realizam-se as cerimónias fúnebres, que terminam no domingo, às 10h00, no complexo funerário da Figueira da Foz, onde o corpo vai ser cremado.
In diariocoimbra.pt